Com filmagens iniciadas nesta semana em Campo Grande, o longa-metragem Quando a Gente Se Encontrar nasce como um marco para o cinema sul-mato-grossense ao reunir uma equipe diversa, processos autorais de criação e, sobretudo, um compromisso com o território.
Dirigido pela cineasta e dramaturga Lígia Tristão Prieto, o filme é um produto do Grupo Casa Produções – coletivo de artistas com mais de dez anos de atuação em arte, cultura e formação no estado. Mais do que um set de filmagens, Quando a Gente Se Encontrar é fruto de uma construção coletiva que desafia modelos tradicionais e centralizados de produção audiovisual. Ao optar por filmagens 100% realizadas no Mato Grosso do Sul com equipe majoritariamente formada por mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ ligadas ao território, o projeto reafirma a potência criativa que pulsa fora dos grandes eixos urbanos. Não se trata apenas de descentralizar, mas de narrar a partir de outros olhares, outras paisagens e outras formas de sentir o mundo.
Esse fazer cinematográfico, enraizado e afetivo, ganha corpo também no processo de criação do roteiro, desenvolvido por meio do método autoral “Escuta da Criação”, idealizado pela Mestre Lígia. O método se baseia na escuta profunda entre artistas, em encontros criativos onde as experiências individuais atravessam o coletivo e compõem uma dramaturgia viva, subjetiva e ligada ao tempo presente.
O roteiro contou com a orientação do roteirista Pedro Reinato, referência nacional na área, que contribuiu para costurar uma narrativa que se move entre silêncios, reencontros e permanências. Quando a Gente Se Encontrar aposta na delicadeza como força estética, nas relações como motor narrativo e na coletividade como ética de produção. Mais de 130 profissionais estão envolvidos no projeto.
Ao escolher o Mato Grosso do Sul não apenas como locação, mas como fonte de inspiração, o filme amplia o mapa simbólico do cinema nacional e fortalece um modo de produção que respeita os ritmos, as paisagens e os afetos de quem vive e cria no centro do Brasil. O início das gravações marca não apenas o nascimento de uma obra, mas o avanço de uma linguagem cinematográfica feita de chão, escuta e pertencimento. Um tempo novo para o audiovisual fora do eixo, onde cada cena carrega o gesto de permanecer e resistir através da arte.