A Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) confirmou nesta sexta-feira (22) a existência de fome generalizada na Faixa de Gaza, marcando o primeiro caso do tipo no Oriente Médio. O relatório afirma que a fome já atinge a Cidade de Gaza, principal centro urbano do território palestino, e pode se espalhar ainda mais nos próximos meses, caso a situação humanitária não melhore.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, classificou a crise como uma “fome provocada e evitável”, acusando Israel de usar a escassez de alimentos como arma de guerra. “Há fome generalizada em Gaza, em pleno no século 21. Uma fome que se desenvolve sob o olhar de drones e da tecnologia mais moderna. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é prevenível, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar”, afirmou.
Segundo o IPC, 132 mil crianças com menos de cinco anos correm risco de morte por desnutrição aguda, e mais de 200 pessoas já morreram de fome em Gaza desde o início do conflito. A ONU afirma que há toneladas de alimentos paradas nas fronteiras, impedidas de entrar no território.
Em resposta, o governo israelense repudiou o relatório, chamando-o de “falso, distorcido e baseado em informações do Hamas”. O Ministério das Relações Exteriores de Israel declarou que “não há fome em Gaza” e que mais de 100 mil caminhões de ajuda humanitária já entraram no enclave desde o início da guerra — embora a ONU afirme que o mínimo necessário seria entre 400 e 500 caminhões por dia.
As mortes por inanição podem configurar crimes de guerra, alertou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk. Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a fome em Gaza “não pode ficar impune”.
A crise humanitária se intensifica com a nova ofensiva militar israelense na Cidade de Gaza, onde vivem mais de um milhão de pessoas, muitas delas deslocadas pela guerra. O Exército de Israel anunciou os “primeiros estágios” da operação terrestre para capturar áreas ainda sob controle do Hamas.
Em julho, o IPC disse que a fome no território havia atingido a fase 5, a mais grave possível e considerada “catástrofe humanitária”
Fase 5 da IPC, segundo a ONU
– Falta extrema de alimentos: Pelo menos 20% das famílias enfrentam falta extrema de alimentos.
– Desnutrição aguda grave: Pelo menos 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda. Alternativamente, para o IPC, este limear pode ser atingido com 15% de desnutrição aguda global (entre adultos e crianças) medida pela Circunferência Média do Braço.
– Mortalidade elevada: Ocorre um mínimo de 2 mortes não relacionadas a traumas (como por armas de fogo ou situação de combate, por exemplo) para cada 10.000 pessoas por dia.